sexta-feira, 25 de abril de 2008

O TÊNIS DO JURANDIR, por Romir Rodrigues


Jurandir saía para almoçar, da casa lotérica “Velocino de Ouro”, onde trabalhava, sempre às dez horas da manhã. Seu Jasão, que era o gerente, queria ele de volta às onze, porque a partir desse horário começava o maior movimento. Como tomava café às oito, Jurandir preferia gastar seu tempo caminhando pelo centro. Trabalhava na José Inácio; seguindo em direção ao rio encontrava a Voluntários, dobrava à esquerda e ia até o Mercado Público olhando as ofertas e, principalmente, namorando aquele tênis todo preto pelo qual se apaixonara ao ver a propaganda da TV.
Passava por dentro do mercado, chegando na Prefeitura Velha e ali ficava a observar o estilo antigo, curvo, com pequenos detalhes, contrastando com a linearidade dos modernos prédios revestidos de vidro. Também faziam parte do cenário a fonte e as pombas, as verdadeiras donas daquele espaço. Humanos vêm e vão e elas ficam ali, tomando água na fonte, dando pequenos mergulhos, brincando, protegidas pela cerca de ferro como que provocando: “Aqui vocês não podem vir”. E o mais importante, os dois leões, parados, em estado de alerta, guardando as escadas e esperando a volta do mago que lhes aprisionou as almas e os transformou em estátuas. Ali Jurandir costumava ficar, sempre parando em um local diferente, para ter vários pontos de vista e absorver todas as possibilidades daquele espaço.
Quando não chovia, ia até a Praça da Alfândega ver as árvores. Como naquele dia. O céu azul que acompanhava o sol da primavera e emoldurava os prédios emprestava a tudo uma coloração especial. O tempo parecia mais arrastado. Foi quando ele viu, na esquina da Sete de Setembro com a Uruguai, o furgão da transportadora de valores estacionado, de onde os seguranças retiravam alguns malotes e levavam para dentro do Banco do Brasil. Era como se Jurandir estivesse assistindo a um filme em câmara lenta, do qual passara a fazer parte quando tomou a direção do furgão. Por um momento ninguém estava olhando para ele. Em sua frente o malote, no chão, parecendo uma grande sacola com a alça para cima. No mesmo passo, sem vacilar, um único movimento, sincronismo de balé. Em sua cabeça o tênis preto da propaganda, em sua mão o malote. Ele atravessa a rua sem olhar para trás. Na General Câmara pega à esquerda e sobe a Ladeira.
Quase não viu as mercadorias que um vendedor, vestido à moda anos sessenta, estava expondo espalhadas por uma lona estendida na rua. “Cuida as minhas bolsas aí, malandro. Vai pisar em cima, é?” A voz do outro o trouxe de volta, quebra o encanto, o tempo retoma seu compasso. “Bolsa, é isso!” - pensa Jurandir. “Quanto custa aquela grande?”, ele pergunta ao vendedor. “Trinta reais”, é a resposta. A mão de Jurandir se dirige ao bolso, hesitante, mas o peso do malote, na outra, o fez decidir. “Toma, eu vou levar”. Enquanto o comerciante alcançava-lhe a bolsa e colocava o dinheiro na pochete que carregava amarrada à cintura, ele lembrou-se que aqueles eram os trinta reais que faltavam para o tênis. Havia seis meses que já estava economizando.
Com o malote dentro da sacola subiu em direção à Duque de Caxias e foi até a Santa Casa. Parou um pouco no terminal de ônibus da Praça Dom Feliciano, quando passou um carro da polícia, sirene ligada. Um frio gelado percorreu a espinha daquele que imaginava ser o mais novo procurado pela lei e depositou-se em seu estômago. Uma ânsia começou a se formar e crescer rumo à sua garganta. Só caminhando a sensação parecia diminuir, quanto mais rápido melhor. De repente, Jurandir estava correndo pela Independência com toda velocidade. Na descida da Mostardeiros, já não agüentava mais, quase caiu. Quando chegou ao Parcão estava morto de cansado. Atirou-se, sem forças, no gramado embaixo de uma árvore, abraçado à bolsa.
A ânsia tinha passado, na verdade era como se tudo tivesse passado. A única coisa que existia era seu coração que parecia gigante, comprimindo-se contra o peito. A respiração era feita pela boca, sofrida. Aos poucos, as partes do corpo fatigado foram se entendendo, a sensação foi ficando boa e, abraçado à bolsa, dormiu.
Ao sono acompanhou-lhe um sonho. Jurandir caminhava por um campo infinito, um verde estendido a qualquer horizonte, onde pastava um cordeiro com o pêlo de ouro. Parecia-lhe perto, bastava uma curta caminhada. Mas, a cada passo, o cordeiro afastava-se, tão próximo e ao mesmo tempo tão distante. Resolveu correr e correr e correr. E sua vontade de alcançar o animal dourado foi aumentando. Num último esforço, ele dá um enorme pulo, como se quisesse voar. Quando atinge o solo, sente um puxão nos braços. Acorda.
Abrindo os olhos, Jurandir viu um pivete correndo com sua bolsa. Levantou-se gritando: “Eu vou te pegar, seu filho da puta!”. O pivete olhou para trás, era pequeno e tinha que carregar a sacola apertando-a com os dois braços contra o peito, tropeçou e bateu direto contra um banco de concreto.
Jurandir aproximou-se. A cabeça do menino tinha uma fenda por onde saia um filete de sangue que, escorrendo pelo rosto, chegava até a sacola, aberta pela queda, deixando à mostra metade do malote. Mas, o que realmente chamou-lhe a atenção foi o tênis do pivete, desproporcional ao seu tamanho e novo em folha. Era preto, o mesmo da propaganda e dos seus sonhos. Olhou embaixo da sola - número quarenta, o seu número. “Deve ter sido por isso que ele caiu”, pensou. Analisou a cena toda, passou em revista todos os acontecimentos. Tomou como um sinal o sangue que se espalhava pela bolsa. Retirou seu par de tênis velho e calçou-o no pivete, enquanto colocava o dele. Foi embora suspirando ao pensar que no outro dia iria até a Prefeitura, bem confortável em seu novo tênis, olhar a fonte, as pombas, as pessoas e os leões.

segunda-feira, 31 de março de 2008

Hoje

Por Alexandre Tremea.

Hoje é o agora do calendário.
Página da agenda.
Dia que começa.
E que à noite termina...

Hoje é um dia da semana.
Hoje tem notícias de ontem.
Hoje é um dia do mês.

Hoje não passa da meia noite.
Hoje só vai até trinta e um.
E quando hoje se tornar ontem,
é por q hoje já é, amanhã.


Tema do próximo desafio: SAPATO(S)

sábado, 29 de março de 2008

Novo

por Diego GF

a nova cortina;
a nova camisa;
um novo carro;
um novo celular

Mas é apenas uma organização
diferente dos mesmos átomos!
Já estavam aqui desde a misteriosa Gênese.

Que novo então há no Universo
se o que é tua pele já estava
aqui?
E até teu peito,
teu coração ferido,
onde guardas mágoas de tempo
antigo:
era poeira, ouro, coelinho
branco, sol e macieira.

De nova apenas tua
compreensão de tudo o que é
velho e reciclável.
Única e inédita.
O etéreo e novo que compôe tua vida.




Tema do próximo desafio: HOJE.

domingo, 16 de março de 2008

SEMANA DA POESIA

O Clube Literário de Cachoeirinha, com o apoio da Secretaria Municipal da Cultura e outras entidades, está promovendo, de 14 a 21 de março, a Semana da Poesia com o tema "A poesia e as artes"!Participe deste evento agendando o Recital musical e poético Escola em verso em sua escola! As artistas Drica Lopes, Roberta Moura e Rosane Castro farão leitura de poemas, canções, e outras surpresas! O recital conta com dois repertórios diferentes: um de poesia infantil, voltado para alunos de educação infantil até quarta série do ensino fundamental; e outro de poesia juvenil, para alunos de quinta a oitava série do ensino fundamental.Agende sua escola até o dia 14 de março através do e-mail clubeliterariodecachoeirinha@gmail.com ou pelo telefone 9206-0109, com Ana Paula.
Abaixo, segue a programação da Semana. Para a oficina e os encontros com escitores, as inscrições serão feitas por e-mail, clubeliterariodecachoeirinha@gmail.com ou pelo telefone 9206-0109, com Ana Paula.
Semana da Poesia
Tema: A poesia e as artes
PROGRAMAÇÃO
14 de março, sexta-feira
20h
Abertura com exposição de poemas da escritora Ana Michel e recital poético
Local: Casa do Leite
15 de março, sábado
15h
Avenida em verso
Local: saída em frente a SEC até o Calçadão
20h
Sarau MPB
Local: D'Alia Pub
Rua Papa João XXIII, 101
16 de março, domingo
16h
Mateando no Parque
Local: Parcão
17 de março, segunda-feira
19h
Pessoa(s): a obra de Fernando Pessoa
Com Jane Tutikian, escritora e professora de Literatura Portuguesa do Instituto de Letras da UFRGS
Local: Cipex Idiomas
Av. Frederico Ritter, 51
18 de março, terça-feira
20h
Eu, Pessoa e outros eus
Local: Restaurante Vida Natural
Av. Flores da Cunha, 1004
19 de março, quarta-feira
19h
Poesia pra gente pequena média e grande
Com Alexandre Brito, escritor
Local: Cipex Idiomas
20 de março, quinta-feira
19h
Poesia e Letra de música
Com a escritora Ana Mello e o músico Carlos Schantz
Local: Cipex Idiomas
Av. Frederico Ritter, 51

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Semana da Poesia

Acontece, de 14 a 21 de março, a Semana da Poesia. A proposta deste ano é “A poesia e as artes” e pretende discutir a incursão da poesia em vários segmentos da arte. O evento terá atividades como sarau, oficinas e sessões de cinema. Para a comunidade, o Clube Literário e demais entidades envolvidas lança o desafio: o que teu grupo pode realizar nesta semana? Algumas sugestões: fazer um canteiro de poemas, um sarau temático, serenata, uma sessão de cinema, apresentação de dança, teatro... A idéia é que ações culturais floresçam durante toda a semana em diversos lugares da cidade. Mobiliza teus vizinhos e nos conta tua proposta através do e-mail clubeliterariodecachoeirinha@gmail.com

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

2008

Ano-Novo, boas-novas!

O ano começa e o período de férias é de articulação para as próximas atividades do Clube Literário de Cachoeirinha. Em breve, postaremos as novidades. Podemos já adiantar a Semana da Poesia, de 14 a 21 de março. Muita coisa boa vem por aí e pra que todos estejam por dentro, a diretoria convida para a reunião dia 31/1, quinta, às 20h no Cipex Idiomas.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

de pelúcia


Eu me escondo atrás destes teus olhos...


Ana Cecato


(foto: Arlise Cardoso)